por Rogério Oliveira
Tarefa de casa! Assistir a um documentário no cinema. Trabalho de escola é assim, ou faz ou fica sem nota. Tudo bem, Como eu tinha R$ 20,00 de sobra, resolvi cumprir a labuta e ficar livre no domingo. Saí de casa às 17h30min do sábado dia 24 de outubro, imaginando que gastaria R$ 10,00 de ingresso, e sobraria a metade para a pipoca e o refri. Sorte a minha, que não paguei o buzú, economizei R$ 2,15. Cheguei ao Shopping, por volta de 18h40min, fui direto ao multiplex, chegando à bilheteria, nem pensei fui logo perguntando:
– Tem Herbert de perto?
A moça não muito simpática me Respondeu.
– Tenho para as 20h00min.
De novo sem pensar tratei de garantir logo o meu.
– Eu quero
Ela me perguntou como se soubesse que sou estudante.
– Inteira ou meia senhor?
Puxa! Eu tinha esquecido de levar o comprovante de matrícula da escola que estudo, mostrei-lhe o cartão de acesso, ela olhou, meneou a cabeça negativamente, pegou minha nota de vinte reais e colocou o troco na abertura do guichê junto com o ingresso e o cartão, quando peguei tudo que conferi o troco, veio o susto, só tinha R$ 3,00, Conferi o ticket e estava lá com letrinha miúda, inteira R$ 17,00. Fiquei triste é claro pensei em vender e me mandar pra casa, mas, aí pensei, já que estou aqui, vou tirar onda de bacana! Ainda era 19h00min, fiquei por ali dando uma volta pra passar o tempo, quando vou descendo a escada rolante, uma moça muito bonita, teve o seu vestido longo e listrado sugado pela escada, coitada ficou ali um tempão pagando o maior mico e ninguém ajudava, então pensei, vou lá! Sem temor perguntei:
– Precisa de ajuda senhorita?
– Sim! Não tem problema se rasgar, o importante é que me tire daqui.
Depois de algum esforço, prontinho. Fiquei com as mãos sujas de graxa e a jovem além de muita vergonha teve o vestido rasgado.
– Moça por gentileza poderia me dizer seu nome?
– Meu nome é Iara, e muito obrigada.
Fui lavar as mãos e quando cheguei ao banheiro, meu Deus que luxo!
Já quase morrendo de sede, fui à lanchonete, com a propaganda da Pepsi, engraçado todas tinham a mesma publicidade, mas, eu queria tomar água. Vamos aos preços: Pipoca R$ 5,00 da pequena, da grande 7,00. Água R$ 2,50. refri. 300 ml, R$ 2,50. Achei aquilo tudo muito irado, pois, estou acostumado a tomar água de R$ 1,00, ref. de 1,50 e ainda como pipoca de 1,00, também nunca tinha visto alguém presa a uma escada. Aí resolvi registrar tudo. Êpa! Cadê a caneta? Fui comprar, encontrei uma que custava R$ 2.200,00 achou cara? Se eu não pudesse pagar a vista podia dividir em Seis vezes, fui à outra loja e achei uma mais barata, R$ 65,00, mais eu só tinha três reais! Então tive uma idéia, vou ao piso popular, o térreo é claro! Encontrei uma que custava R$ 1,00, comprei. Só que a sede não passava. Saí do shopping atravessei a rua e comprei um H20, que custou R$ 2,00 no camelô. Voltei correndo para não perder o início do documentário, a minha sala era a de Nº 02. Encontrava-se no recinto um grupo de amigos barulhentos, e eu lá anotando tudo, tirando a maior onda. Mas, a coisa que mais me emocionou e que valeu os meus R$ 17,00, foi ver o trailer do filme de Fábio Barreto, com Lucélia Santos e Glória Pires, Lula o filho do Brasil, com estréia prevista para 1º de Janeiro, os olhos encheram de lágrimas. Iniciou o documentário com Herbert na cadeira de rodas assistindo pela TV, imagens antigas da banda Os paralamas do sucesso. A mãe de Herbert, a senhora Tereza Viana, contou como aconselhou o filho a trocar de baterista, já o pai do cantor, disse que o filho quando era pequeno ganhou uma bicicleta e trocou por um violão de verdade. Pude ver também Gilberto Gil falando que os paralamas têm a pegada do reggae, conheci Bi Ribeiro, o baixista da banda, João Barone o baterista que substituiu Vital, e pude perceber a amizade entre esses três rapazes, que bonito estiveram juntos o tempo todo, nesse momento confesso que fiquei bastante emocionado. Relembrei o dia da estréia da banda em 1983 no circo voador, na abertura do show de Lulu Santos, aí a memória funcionou quando eles tocaram na edição do “Rock in Rio”, isso foi em 13 de Janeiro de 1985. Claro que não podia faltar Carlinhos Brown, ajudando a compor uma Brasileira, cantada por Djavan e Herbert. Emoção maior foi quando Dado Villa Lobos, ex-legião urbana, narrou o acidente. Passei momentos difícieis, pois o H2O me deu uma baita vontade de fazer x… Êpa, Mijar, só que eu não queria perder nem um detalhe e aguentei até o final, só que depois me deu dor na bexiga.
“O choro pode durar uma noite, mas, a alegria vem ao amanhecer”, esta frase faz parte da canção do ex-trompetista dos paralamas, Matos Nascimento, hoje evangélico. Aí eu me alegrei ao ver o milagre na vida do líder da banda que conquistou o mundo. Ele encerrou o documentário cantando em inglês a musica “se eu não te amasse tanto assim” para sua esposa morta no acidente, a senhora Lucy Needham Viana. Ingresso R$ 17,00, caneta R$ 1,00, H2O R$ 2,00 no camelô, transporte 2,15 no buzão. “Ver um milagre na vida de Herbert, e tirar onda de bacana em pleno Iguatemi, não tem preço”.
Ah! Quer saber como voltei pra casa? De carona!